Hoje
em dia parece que discutir sobre a homossexualidade é algo que está em
alta e que os meios de comunicação de massa querem aproveitar-se.
O
que percebemos, porém, no dia-a-dia difere do mundo mágico criado pela
televisão, principalmente quando o gay está dentro de minha casa! Aí
aquela imagem engraçada e alegre (em inglês, gay) torna-se uma
preocupação para os pais.
A questão está justamente na imagem que se
tem e nos conceitos criados sobre a homossexualidade. E os conceitos
previamente fabricados sobre algo nada mais são do que chamamos de
preconceito (pré-conceito).
Os pais têm que quebrar a imagem de achar
que um filho gay é um filho querendo ser mulher; de achar que têm um
filho que quer usar roupas femininas; de achar que têm um pervertido
dentro de casa ou tantas outras imagens errôneas.
No Zorra Total, da
Rede Globo, havia um quadro no qual o pai estava falando de quão macho
era seu filho aos amigos e, de repente, este filho aparecia saltitando e
gritando: Papi! Ao final, o pai virava-se para a câmera e perguntava:
onde foi que errei? Aqui está uma das grandes provas de como se vê a
figura de um homossexual, isto é, como aquele que é um erro, um desvio,
um coitado que saiu anormal, alguém desprezível, uma pessoa com a qual
deve-se tomar cuidado e manter certa distância etc.
O carinho,
respeito, confiança e orgulho são características intrínsecas aos pais.
Será que os pais estão conseguindo transmitir todas estas qualidades de
verdadeiros pais aos filhos gays? O amor característico aos pais é o
amor incondicional. Será que os pais estão amando incondicionalmente os
filhos gays ou estão pondo condições para amar?
Existe o caso absurdo
de pais que levam os filhos em médicos quando descobrem a orientação do
filho! Ou ainda aqueles que oferecem dinheiro ou o melhor carro do ano
caso o filho mude de opinião e deixe de ser gay. Parece até piada, mas
acontece aos montes.
Reparem que disse orientação e não opção, pois
existe uma grande e substancial diferença entre estes termos. Ninguém
opta por nascer gay. Às vezes, ouvimos: nossa, o fulano depois de velho
resolveu virar gay. Não é que alguém resolve “virar” gay! O que acontece
é que a pessoa sempre foi gay, desde criança, mas sofreu as mais
diversas pressões familiares e sociais, não tendo possibilidade de
perceber sua real orientação homossexual, ou seja, na primeira
oportunidade que lhe apareceu, descobriu.
Pais verdadeiros não
sufocam os filhos, pois querem que estes sejam felizes e que descubram o
que é o amor. Quem disse que a minha forma de amar é a correta ou a
melhor? Ou ainda a única forma e possibilidade de amor? Existe um livro,
de um historiador, que se chama “O amor entre iguais”, o qual não tive a
oportunidade de ler ainda, mas apenas apreciei a entrevista que o autor
concedeu a Jô Soares, no qual ele relata a homossexualidade no decorrer
da História. Muita gente não tem conhecimento de que na Grécia, por
exemplo, a forma de um homem inteligente se apaixonar era apenas amando
um outro homem; apaixonar-se por uma mulher era para os ignorantes,
visto que a relação com mulheres era apenas para a procriação, ao passo
que o amor era reservado a alguém do mesmo sexo.
O judaísmo tem o
sêmen como algo sagrado, simbolizando a vida. O cristianismo tem origens
judaicas e, portanto, irá colocar a fertilidade e a procriação como
algo sagrado. Porém, nota-se nitidamente apenas uma mudança de costumes
ou paradigmas, apenas um contexto cultural diferente, sendo que a
cultura dominante foi a ocidental cristã e por isso que a
homossexualidade passou a ser vista, desde então, como anormal.
A
intenção deste artigo é apenas tentar clarear um pouquinho a mente e o
pensamento de pais que muitas vezes sentem-se aflitos diante do que está
evidente e claro a eles. E aqui formação acadêmica de nada vale! Tem
gente que acha que uma psicóloga irá aceitar o filho, ao passo que uma
pessoa que não teve possibilidade de estudos não. Grave erro de quem
assim pensa. Pessoas que têm curso superior, pós-graduados, mestrados ou
doutorados muitas vezes condenam e julgam, sentados em seu trono da
auto-suficiência e arrogância, legitimados em títulos e diplomas. No
entanto, nenhum diploma confere respeito, carinho e, acima de tudo,
amor.
Senhores pais, o que os senhores ensinaram a seus filhos? A ter
vergonha? A ter vergonha de ser o que se é? Então, meus parabéns, pois
os senhores estão transformando o próprio filho num monstro, num poço de
desânimo e tristeza profundas, em alguém amargo e cheio de conflitos.
Em nome do que “os outros vão pensar ou falar” vocês sufocaram o SER de
alguém, vocês transformaram o filho de vocês naquilo que vocês querem
que ele seja e naquele bonequinho que vocês podem apresentar à
sociedade... um bonequinho sem vida própria que vive diariamente
sufocando os próprios sentimentos, culpando-se e entristecendo-se por
não ser “aquilo que os pais querem que ele seja”.
Muitos filhos que
assim foram criados tornaram-se os bonequinhos dos pais e namoraram,
casaram e constituíram família. E hoje são os inúmeros homens casados e
pais de famílias procurando mocinhos na Internet, nas salas de bate-papo
ou nos banheiros públicos das cidades vizinhas. Mais uma vez, parabéns
pais!!!
Por fim, quero dizer que não se corrige o que não está
errado, que não se torna normal o que não é anormal. Alguém que é gay é
gay essencialmente e não ocasionalmente. Existem correntes de pensamento
que dizem que um gay vai contra o seu ser. Filosoficamente isto está
incorreto, visto que, desde sempre, seu ser, ou seja, sua essência foi
sentir-se atraído por pessoas do mesmo sexo. E esta é uma das formas ou
orientações da sexualidade. Quem pode dizer o que é normal? Quem
estabeleceu os padrões? O que é uma relação sexual normal? Existe alguma
relação sexual anormal? Quem poderá julgar? Afinal, entre quatro
paredes as pessoas revelam muitas coisas e pessoas consideradas “puras e
sem mácula” descortinam-se em momentos de sexo anônimo, por exemplo. E
deixou de ser normal? Quem justifica a homossexualidade como algo que
vai contra a essência precisa aprofundar-se um pouco mais em Filosofia.
Sugiro começar por Sócrates, visto que descobriu a essência do homem
(psyché).
Não pretendo e nem quero convencer ninguém de nada. Este é
apenas mais um artigo como todos os outros, no qual partilho e filosofo
sobre assuntos divergentes. Quero aproveitar e dizer a meu pai, André, e
minha mãe, Nair, que os amo muito e que sem vocês eu jamais seria o que
sou hoje. Obrigado por estarem comigo e me amarem sempre.
André C. Massolini